Este amor imperfeito e inacabado que me deste é toda minha vida
A escultura imerecida da apoteose desse coração mendigo que suplica ramalhetes
Ficam as imagens dos instantes que nos beijamos e sorrimos
Que hão de durar para sempre em nossa mente
Como velas de um barco navegando às escuras
Me destes o entendimento dos enamorados, que tudo é um belo amanhecer
Que a vida e o amor é uma fumaça que abraçamos e nos esgotamos de prazer
A cor do amor passa mas deixa gravado em nosso coração sua aquarela
Que de repente é dia, e de repente é noite
E que isso não faz a menor diferença quando estamos de mãos dadas
O amor imperfeito é fogo frio, é ferida e fermento,
unidade e contradição, adeus e ressureição
É um paradoxo de símbolos em flechas que nos tresspassa alma e corpo
E expõe-nos às misérias humanas entre o instante aqui e o além
Delírios e sobriedades, solilóquios da esfinge no avesso do avesso do avesso
Em que desmontamos nossos castelos e soltamos nossas amarras
Metamorfoses da vida nos preparando para a morte
O amor é essa pira funerária
A plenitude do ser que entende sua imperfeição e nos faz querer viver somente de pura poesia
Tú iluminastes meus dias
Me fizestes sangrar e nunca me dissestes realmente a que veio
E nesse holocausto sentimento de amor e não-amor, me refiz
em cada soluço e em cada êxtase
Preparando-me para a grande pergunta que a vida um dia irá nos fazer:
trouxestes a chave?