Vejo o tempo passar
Mas... aonde ele vai?
As plantações de trigo estão crescendo
Em fluxos periódicos de uma beleza sublime
A beleza além da beleza imaginável
O significado profundo maior que o próprio significado
Puro existir da divina fonte
Efêmera e constante na inconstância do mundo
Nascer, crescer e morrer ... repetidamente
Como deixar cair a maçã da árvore ao solo
E não ter tempo de segurá-la
Feito de inicio, meio e fim
Mas... e quando?
Sofro de amores profundos
De não ter cometido o crime de romper com o silêncio
Arrancar amarras e conceitos imputados
Existir com luz própria
Um tempo novo que se concebeu
E inventou um novo homem
O homem que chora, sente as lágrimas
E não as esconde
Nada de máscaras ou dissimulações
As linhas e as imagens refletidas no rosto
Povoa o infinito e seus labirintos
O tempo passa e nada fica
O começo principia o fim
Posso estar morrendo mas
Sempre é tempo de rosas cálidas
Com cores mais brilhantes e olhos desimpedidos
Vamos para a morte como se fosse um novo encontro
Uma pincelada inédita de Dali
Decifrando os áugures e revessos do nosso ser
Na monstruosa indiferença mecânica do tempo
Esse Divino Relojoeiro do Universo
Aniversário da Vó Déia - 82 anos
sábado, 25 de setembro de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
DIA PERFEITO (Bissol)
O dia perfeito há de vir
com mais flores, com mais seiva, com mais frutos,
a chuva cairá moderadamente adubando a vida,
o sol seguirá calcificando o crescimento,
o vento soprará de modo a agitar os pólens,
o mar e os rios estarão sempre abundantes,
de peixes, ostras, mariscos, camarão e lindos corais
O pescador voltará sempre antes do sol se pôr, vivo
abastecendo sua comunidade, e beijar sua amada
O plantador terá fartura de sementes
e o solo estará sempre fértil
Todas as crianças irão à escola e depois brincarão
Tão somente, diversão e alegria
Os adolescentes beijarão muito, sem nenhum vício ou moralismo,
com muito sentimento, muita música e muito esporte
Todos terão trabalho digno,
trabalhando com alegria e serenidade
Não faltará alimentos
Não existirá fome
Viveremos num sistema capitalista social
exercendo nossa liberdade criativa e democrática
com plena responsabilidade pelo próximo,
pelo ambiente e pelo mundo em si.
Viveremos libertos de todos os sentimentos falsos,
preconceitos, negativismos, limitações ou aparências
sem guerra ou afrontas, mentiras ou intolerâncias
como irmãos e vizinhos
respeitando as diferenças culturais, sociais e espirituais
Marido e mulher se amarão muito
numa vida compartilhada, cheia de contrastes resolvidos
Será o dia marcado pela harmonia indelével da existência natural
pela dignidade e pela felicidade
ao princípio básico de ser feliz e fazer os outros felizes
no equilíbrio da razão e da emoção
Chegarei em casa nesse dia, depois do trabalho,
abraçarei forte minha mulher, lhe contarei as minhas estórias,
entenderei suas angústias e esperanças,
depois, juntos, contaremos estrelas, dançaremos ao luau
e faremos amor até a exaustão, perpetuando-nos um ao outro
Esse será o meu dia perfeito
e eu hei de tê-lo
com todas as minhas forças
como se só a mim, dependesse ele,
como se todo equilíbrio desordenado do universo
estivesse nos meus ombros
e meu ombros fosse a escora para outros ombros
e outros ombros suportassem mais outros ombros
nessa sustentável leveza de ser, ter e perceber
SOLIDÃO (Bissol)
Filha da puta, meu amigo, é a solidão
De garras sorrateiras te arrasta ao chão
Doente, vegetal, moribundo
Expõe-te uniformes pensamentos de exclusão
e consome-te osso, fosso profundo
Vício traiçoeiro do eu em mim
Daquele passado que deixei de dividir
consumido sem obras todo o jasmim
dos dias moços, mudos, sem medir
O vinho translúcido na noite alcoólica
O pé já solto pisa alto
leve mente sonha a alma em química
e rondas da morte queimam o asfalto
O sono arde, incauto, a aurora.
A luz envoca a verdade medida
e esperando o quinto da hora
enrola o fio no pescoço da vida
É noite... e a vida não vem...
É dia... e a vida não vai...
De garras sorrateiras te arrasta ao chão
Doente, vegetal, moribundo
Expõe-te uniformes pensamentos de exclusão
e consome-te osso, fosso profundo
Vício traiçoeiro do eu em mim
Daquele passado que deixei de dividir
consumido sem obras todo o jasmim
dos dias moços, mudos, sem medir
O vinho translúcido na noite alcoólica
O pé já solto pisa alto
leve mente sonha a alma em química
e rondas da morte queimam o asfalto
O sono arde, incauto, a aurora.
A luz envoca a verdade medida
e esperando o quinto da hora
enrola o fio no pescoço da vida
É noite... e a vida não vem...
É dia... e a vida não vai...
SE TE QUERES MATAR (Fernando Pessoa)
Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! .................................
Ah, aproveita! .................................
VEJO FLORES EM VOCÊ (Bissol)
Uma primavera brotou em minha vida
Entrou inesperadamente como áster
e com beijos-pintados floriu meu caminho
colorindo todos os cravos-de-amor
Luz de girassol, sorriso sempre-viva
Sua pele exala o jasmim-do-dia e o da-noite
mas se maltratada enreda jasmim-tabaco e
se afasta begônia enclausurada
Chora crisântemos de dor e lágrimas póstumas de lírio
Quando encantada se abre feito maria-sem-vergonha
E se bem amada floresce rosa-sempre-florida
Tem olhos de amor-perfeito, segredos de azaléia
e a sobriedade de antúrio
Mas para ter seu coração é preciso cuidados de orquídea,
riqueza de calanchoe, crista-plumosa da celosia
e a ousadia da helicônia que se abre ao beija-flor
Delicada como os gerânios e rara flor da bromélia
Você é o hibisco de um povo em busca de símbolos
Entrou inesperadamente como áster
e com beijos-pintados floriu meu caminho
colorindo todos os cravos-de-amor
Luz de girassol, sorriso sempre-viva
Sua pele exala o jasmim-do-dia e o da-noite
mas se maltratada enreda jasmim-tabaco e
se afasta begônia enclausurada
Chora crisântemos de dor e lágrimas póstumas de lírio
Quando encantada se abre feito maria-sem-vergonha
E se bem amada floresce rosa-sempre-florida
Tem olhos de amor-perfeito, segredos de azaléia
e a sobriedade de antúrio
Mas para ter seu coração é preciso cuidados de orquídea,
riqueza de calanchoe, crista-plumosa da celosia
e a ousadia da helicônia que se abre ao beija-flor
Delicada como os gerânios e rara flor da bromélia
Você é o hibisco de um povo em busca de símbolos
VIDA E MORTE SE ENLAÇAM (Bissol)
Amiga, assim caminhemos lado a lado
Na rua deserta
Segure minha mão
Não posso suportar tanta realidade
O passado e o futuro se encontram
Se encontram sempre no presente
E tudo é dança
Estive ali naquele momento
E ele foi único no espaço-tempo
Mas tudo é relativo e depende do referencial
E o meu momento, para alguém longínquo será futuro
Logo, somos eterno, pois o espaço é infinito e nossa luz sempre caminhará
Ao enxergar além do horizonte, eu percebo que a Terra é curva
Está escuro e estou com sono
As palavras movem-se lentas, longe
Mas o tempo vive e revive
A vida e a morte se enlaçam
Ao menor vento, tombamos incorpóreos, reduzidos a nada
O rosto claro e rubro, o pulso ora forte, ora fraco,
Dizem que ainda estou vivo
A morte é a paz que transcende a compreensão
Depresa, já é tarde
Pois viver é movimento
Pela graça dos sentidos, eu sinto o mundo girar
Eu preciso libertar meu interior dos desejos e da compulsão
Com ternura, os índios ianomâmis comem as cinzas dos mortos
para honrá-los e incorporá-los aos vivos
É a transformação do corpo de Cristo em pão e vinho
No clamoroso lamento da quimera inconsolado
Toc toc toc batem à porta
(eu sinto que estou vivo)
Alguém veio me ver
A morte e a vida são singulares
Não há equações matemáticas para explicá-las
Eis hoje tudo o que eu pude ser
Queria gritar!
Na iminência da morte, procuramos Deus
E todo nosso conhecimento adquirido aprofunda-se na mais vazia ignorância
Quantos juízos equivocados, quantas fantasias improfundas
Só o instinto nos mantém fortes
A hora urge e no último instante, tudo foi relativamente muito pouco
Na rua deserta
Segure minha mão
Não posso suportar tanta realidade
O passado e o futuro se encontram
Se encontram sempre no presente
E tudo é dança
Estive ali naquele momento
E ele foi único no espaço-tempo
Mas tudo é relativo e depende do referencial
E o meu momento, para alguém longínquo será futuro
Logo, somos eterno, pois o espaço é infinito e nossa luz sempre caminhará
Ao enxergar além do horizonte, eu percebo que a Terra é curva
Está escuro e estou com sono
As palavras movem-se lentas, longe
Mas o tempo vive e revive
A vida e a morte se enlaçam
Ao menor vento, tombamos incorpóreos, reduzidos a nada
O rosto claro e rubro, o pulso ora forte, ora fraco,
Dizem que ainda estou vivo
A morte é a paz que transcende a compreensão
Depresa, já é tarde
Pois viver é movimento
Pela graça dos sentidos, eu sinto o mundo girar
Eu preciso libertar meu interior dos desejos e da compulsão
Com ternura, os índios ianomâmis comem as cinzas dos mortos
para honrá-los e incorporá-los aos vivos
É a transformação do corpo de Cristo em pão e vinho
No clamoroso lamento da quimera inconsolado
Toc toc toc batem à porta
(eu sinto que estou vivo)
Alguém veio me ver
A morte e a vida são singulares
Não há equações matemáticas para explicá-las
Eis hoje tudo o que eu pude ser
Queria gritar!
Na iminência da morte, procuramos Deus
E todo nosso conhecimento adquirido aprofunda-se na mais vazia ignorância
Quantos juízos equivocados, quantas fantasias improfundas
Só o instinto nos mantém fortes
A hora urge e no último instante, tudo foi relativamente muito pouco
terça-feira, 15 de junho de 2010
GENTE HUMILDE (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque)
Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo meu peito se apertar ...
E sinto assim todo meu peito se apertar ...
ODE TRIUNFAL (Fernando Pessoa)
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica tenho febre e escrevo ....
CRACOLÂNDIA (Bissol)
Craque
bola
rota bola nota
Bebe
cheira
come viva noite
Fuma
vício
sem sentido disso
Angustiado, o menino chorava o cachimbo perdido
Lânguido, o corpo escorria no chão escorando a última enfervecência
Mata
fura
tosca bolo tolo
Cuspe
vida
mosca morta cola
O zumbi caminha na rua dos Gusmões
"Tio! Tio! eu lhe imploro. Um real, dez centavos, qualquer coisa"
Coca
cola
Vida curta oca
filhos
choram
funda vida ilha
E General Osório, Protestantes, Aurora, Andradas
olham estáticas as vidas no limbo
bola
rota bola nota
Bebe
cheira
come viva noite
Fuma
vício
sem sentido disso
Angustiado, o menino chorava o cachimbo perdido
Lânguido, o corpo escorria no chão escorando a última enfervecência
Mata
fura
tosca bolo tolo
Cuspe
vida
mosca morta cola
O zumbi caminha na rua dos Gusmões
"Tio! Tio! eu lhe imploro. Um real, dez centavos, qualquer coisa"
Coca
cola
Vida curta oca
filhos
choram
funda vida ilha
E General Osório, Protestantes, Aurora, Andradas
olham estáticas as vidas no limbo
PASSAGEM (Bissol)
Um não-eu nada pensa agora
A alma sobe, a carne desce
A forma assopra... "aurora"
O começo eterno de terno
Joga dados efêmeros no tempo
A alma sobe, a carne desce
A forma assopra... "aurora"
O começo eterno de terno
Joga dados efêmeros no tempo
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